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O Livro de Mórmon/Acusações de Plágio/A última guerra
Foi o Livro de Mórmon influenciado pela linguagem e pelos temas de "The Late War" de Gilbert Hunt?
Perguntas e respostas detalhadas
Pergunta: Joseph Smith plagiou passagens do livro de Gilbert Hunt The Late War, between the United States and Great Britain, from June, 1812, to February, 1815?
Os críticos fazem uma suposição de que Joseph Smith deve ter lido A Grande Guerra de Gilbert Hunt
Chris Johnson e Duane Johnson, em "A Comparison of The Book of Mormon and The Late War Between the United States and Great Britain" (http://wordtreefoundation.github.io/thelatewar/), propõem um número de estruturas de sentença paralelas entre o livro de Gilbert Hunt, The Late War, e o Livro de Mórmon. Os autores concluem que Joseph Smith leu o livro de Hunt enquanto estava na escola (sem nenhuma evidência real de que Joseph sequer tenha visto o livro). Eles baseiam esta conclusão na hipótese de que o livro era amplamente acessível e, portanto, Joseph deve tê-lo lido. Assim sendo, concluem que Joseph construiu o Livro de Mórmon usando elementos estruturais de The Late War. A evidência é apresentada como uma série de comparações entre o Livro de Mórmon e The Late War.
Quando a escrita é analisada ou comparada, com frequência, o que parece intuitivo ou lógico não é
Isto ocorre porque a escrita não é comparada deste jeito normalmente - só se faz isto para responder a tipos específicos de perguntas. E já que a maioria das pessoas nunca fez isso de verdade, não se tem ideia do que realmente se deve esperar. Então, geralmente, não se sabe como avaliar este tipo de coisa. É por isso que deve haver uma explicação e porque, depois das descobertas terem sido desafiadas, ela não avançou rumo a uma publicação formal.
A premissa básica por trás deste tipo de estudo se constitue num ato de comparação
Um grande número de coisas são comparadas e se vê quais são as mais similares. Isso pode ser um pouco enganador. Se uma pessoa pegar um caixa cheia de garfos e, então, jogar uma colher, é possível comparar todos os garfos para ver qual é mais parecido com a colher. Mas isso tornará a colher num garfo ou um garfo numa colher? O engraçado sobre este estudo é que se The Late War for removido de uma lista de fontes em potencial, este modelo ainda revelearia outro livro que é bem parecido com o Livro de Mórmon e, se removermos esse livro, ainda encontraríamos outro e assim por diante. O que este modelo não pode nos dizer é o quão parecidos eles realmente são. Para criar um tipo de imagem visual, a maneira com a qual geralmente se lidaria com isto seria criando um espaço ao redor do livro (desenhando um círculo ou esfera ao seu redor) e determinando que um limite externo ao que poderíamos pensar ilustraria uma conexão. (Desculpem, não entendi a frase direito em inglês, não conseguindo, portanto fazer uma adaptação clara para o português.) Se o livro mais próximo cair dentro desse círculo, então se buscariam mais informações. Mas se estivesse fora, seria possível concluir que não há nenhuma conexão similar. Mas sem um mecanismo desses (e não há mecanismo algum neste estudo), sempre se obterá um livro mais próximo - não importando quais sejam nossas opções.
O autores utilizam uma falácia chamada de Atirador do Texas
Para tentar formar o melhor argumento, eles nos dão uma lista de similaridades. Ao apresentar-nos esta lista, somos presenteados com uma falácia chamada de Atirador do Texas. Essencialmente, o modo como a referência funciona é que você dá vários tiros do lado de seu celeiro e, então, vai até os buracos formados e pinta seu alvo ao redor deles (dando a você o melhor e mais preciso agrupamento). Geralmente, o modo como esses modelos funcionam em aplicações aceitáveis é que você começa a testar o modelo em situações cujos resultados você já conheça. Desta forma, você pode ver o quão confiável é seu novo modelo. E se ele for altamente confiável em casos conhecidos, então você começa a aplicá-lo cuidadosamente a modelos desconhecidos (você não cria o seu próprio alvo desta forma). Usando a intuição de que deve estar correto, este modelo usado com The Late War simplesmente pulou a parte de testes. Mas isto criou um dos maiores problemas óbvios com a teoria. Eles não pararam com o Livro de Mórmon. Eles fizeram um teste num romance de Jane Austin e econtraram uma fonte (um livro relativamente desconhecido de 1810). Por que isso é importante? Austin era uma escritora muito produtiva e enviava milhares de cartas durante seu tempo de vida detalhando o que ela estava lendo, suas influências, escrevendo sobre o que ela estava escrevendo e assim por diante. Temos um gigantesco corpo de literatura dedicado a lidar com a escrita dela (ela foi uma das escritoras mais importantes do período). Então, quando se tem um modelo estatístico que produz uma fonte nova em folha, despercebida por qualquer um anteriormente, não mencionada em nenhuma de suas cartas e assim por diante - é para ficar pelo menos um pouco desconfiado. Mas não foi isso que aconteceu. Se essa teoria tivesse sido levada a teorizadores literários acadêmicos, este teria sido o principal ponto de discussão (já que eles não se importam de verdade com o Livro de Mórmon). Este modelo realmente encontrou uma fonte previamente desconhecida e não identificada do trabalho de Jane Austin? Ou ele simplesmente criou a ilusão de fazer isso ao pintar um alvo após reunir seus dados? Estou bastante seguro de que foi a segunda opção aqui. (Nota: descobrir uma nova fonte para Jane Austin seria um tipo de descoberta digno de uma tese.)
Setenta e cinco dos paralelismos identificados como significativos entre os dois textos vieram das declarações de direitos autorais dos dois livros
Computadores ainda não são bons para qualificar dados. Talvez a melhor ilustração disso venha dos dados do estudo. Setenta e cinco dos paralelismos identificados como significativos entre os dois textos vieram das declarações de direitos autorais. Por quê? Porque declarações de direitos autorais costumavam ser como formulários de cadastro, possuindo um certo tipo de linguagem que era padroinzado para o período. Então, livros com direitos autorais provenientes da mesma área e do mesmo período teriam declarações de direitos autorais quase idênticas. E este estudo encontrou 75 paralelismos entre os dois. Isso não deveria ser nenhuma surpresa, pois, obviamente, ambos os livros possuíam declarações de direitos autorais provenientes de uma fonte em comum. Dessa forma, pode-se ver, a partir desse denso material, que há uma relação entre os dois. Mas qualquer um realmente olhar para os textos também verá que isso não tem relação alguma com o que pode ser chamado de conteúdo criativo em cada obra. A maioria das similaridades se devem ao fato de ambas usarem a linguagem da Bíblia do Rei Jaime. Para ambas, a escolha da linguagem parece ser uma decisão de estilo (e não uma decisão determinada pelo conteúdo). E, de fato, o Livro de Mórmon cita Isaías em vários capítulos. Isto cria uma relação entre a Bíblia e ambos esses livros. O modelo computacional não tem como separar o estilo ou a escolha de palavras do conteúdo e do significado (e ambos os textos podem usar a mesma frase de formas diferentes). É necessário ler para perceber que enquanto um está simplesmente copiando a Bíblia (minerando-a por frases), o outro está criando uma discussão teológica ao pegar uma passagem e dissertar sobre ela. 2 Néfi 2 cita Gênesis, com relação a Adão e Eva, e parte daí para comentar e debater sobre a teologia envolvida. The Late War pode usar a linguagem ou mesmo citações do Velho Testamento, mas nunca comenta ou faz debates teológicos. Esse não é seu propósito. Às vezes, as mesmas passagens são usadas. The Late War faz referências a uma batalha específica e a descreve como sendo o confronto entre Davi e Golias. O Livro de Mórmon usa a narrativa de Davi e Golias numa alusão ao Velho Testamento. Essas são formas muito, muito diferentes de usar o texto do Velho Testamento - mesmo se, aparentemente, usarem os mesmos materiais. Tudo isso é importante, porque se The Late War tivesse servido como um modelo, ou emprestado sua linguagem, também se esperariam ver outras coisas influenciadas por ele. E não se veem. Mas o modelo computacional não é capaz de julgar a qualidade dos paralelismos encontrados.
Modelos computacionais têm a tendência de ignorar fronteiras, então não nos ajudam a visualizar a densidade dos dados
Finalmente, modelos computacionais têm a tendência de ignorar fronteiras. Isto é, pode-se pegar uma pilha inteira de materiais, que parece importante, mas não ajuda a visualizar os dados. Por exemplo, aqueles setenta e cinco paralelismos estão contidos numa declaração de direitos autorais, a qual representa uma página ou uma página e meia do texto. O quanto que o material é usado realmente importa. Então, têm-se esta lista de frases. Se pegarmos todas as sequências de quatro palavras em The Late War e procurarmos n'O Livro de Mórmon, O Livro de Mórmon usa uma sequência de quatro palavras de The Late War menos que uma vez para cada 400 frases de quatro palavras diferentes. De onde vieram as outras 399 frases? Em certo ponto, serão achadas várias que ocorreram simplesmente por coincidência. Neste caso, haverá mais conexões através de linguagem bíblica. Mas se pegarmos cada uma e começar e comparar seu conteúdo, será que as acharemos parecidas o bastante para fazer tais afirmações? É bem provável que não.
Comparações entre os textos podem ser verificados com mais precisão na versão em Inglês desse artigo através do link:
http://en.fairmormon.org/Book_of_Mormon/Plagiarism_accusations/The_Late_War
Notas